Acervo: Emanuel von Lauenstein Massarani, jornalista, crítico de arte, diplomático, escritor, historiador, museólogo brasileiro.
A arte de Maria dos Anjos tem uma relação constante com a terra que a viu nascer e a que a acolheu. Nela vive com uma fidelidade ímpar e com o olhar sobre os temas que provocam a sua inspiração e têm o humilde aspecto de uma história íntima e secreta.
Não podemos imaginar essa artista fora do ambiente recriado de sua fantasia com os contornos austeros do silêncio e da solidão, longe das casas camponesas de seu Portugal querido. A pintora encontra-se entre as memórias de seus antepassados, grandes descobridores e não menos navegadores, através daquela metamorfose, onde reconhecemos os elementos simbólicos, gráficos e pictóricos, dominantes na sua arte: torres, castelos, caravelas, peixes e bandeiras.
Com efeito, de há muito, Maria dos Anjos escava nesse mundo ancestral, quase para voltar às origens e ao significado mais real de certas formas que podem parecer pouco comuns. Os sonhos da artista nascem de contemplações que a solidão sugere de eventos históricos, como as grandes viagens e a descoberta da Terra de Santa Cruz. E tudo isso transmitido através de um cromatismo forte, diversificado e de bom equilíbrio.
Não há dúvida que encontramos em sua arte, além de uma fantasia próxima dos afrescos rupestres, o vital sentimento de amor à história. A sua respiração anima inúmeras vezes a fantasia do pintor e a habilidade do poeta que, das terras lusitanas às praias de Porto Seguro, encontrou um mundo próprio, ideal, a ser reconstituído no presente com apaixonada realidade.
Numa fase recente, como na obra da série “Pergunta ao vento que passa” , a pintura de Maria dos Anjos desenvolve-se através de traços, imagens e cores bem dosadas, nas quais procura descrever o peso de certas sensações, o ritmo de certas visões. A estrutura de uma simbologia mais densa de imagens demonstra que a artista sabe “observar” com um olhar atento, repleto de observações penetrantes, de secretas inquietações, de curiosidade vital, dentro de certos traços e formações aderentes mais à observação/ imaginação que à invenção de um surrealismo fantástico.
Por outro lado, as obras Mares navegados I e II, também doadas ao Acervo Artístico da Assembleia Legislativa, fazem parte de uma série de quadros elaborados pela artista para homenagear os 500 anos do descobrimento do Brasil. Nela percorre, com ânimo e com cultura moderna, o caminho de nossas origens, devolvendo às imagens de uma história passada a luz de um sonho vivido através do tempo e tornado realidade através do encanto da arte.
A Artista
Maria dos Anjos, pseudônimo artístico de Maria dos Anjos A. M. de Oliveira, nasceu em Nisa, Portugal. Juntamente com sua família mudou-se, em 1959, para o Brasil, onde se formou em artes plásticas pela Faculdade Paulista de Belas Artes e em museologia pela Fundação Armando Álvares Penteado.
Desde criança esboçou seus primeiros desenhos e somente aos 25 anos iniciou-se na carreira profissional, participando de várias mostras coletivas e conquistando diversos prêmios de aquisição, medalhas de bronze, prata e ouro.
Em 1986, a convite da Secretaria de Estado da Cultura, representou o Brasil no projeto Arte Brasileira no Museu de Arte de Taipei, Taiwan. Em 1987, realizou diversas exposições individuais: na Galeria Multiarte, em São Caetano do Sul; Espaço Cultural do Alcalá Plaza Hotel, em Campos do Jordão; e no Espaço Cultural Sambra, em São Paulo.
Participou, em 1988, do projeto Arco Latino na Sociedade Nacional de Belas Artes, em Lisboa, e da Casa dos Crivos, em Braga, Portugal. Nesse mesmo ano participou, como artista convidada, da primeira exposição Brasil-China, em Pequim. Em 1989, realizou uma mostra individual de aquarelas e esteve presente na mostra Tendências, no Centro Sesi, em São Paulo.
Nos anos de 1991 e 1992, visitou o Japão, onde estudou técnicas variadas do papel artesanal e a arte do sumiê; expôs na Yamaki Art Galerry, em Osaka; na Daimaru Art Gallery, em Shizuoka; na Sogem Art Gallery e na Shinobazu Gallery, em Tóquio. Ministrou um curso sobre luz e cor na Faculdade de Belas Artes de Osaka. Participou ainda de exposições na galeria Moira, em Portugal, e no Museu de Arte Contemporânea de Campinas. Coordenou e integrou, em 1993, o projeto Portugal-Japão, que sob o título “Mares Navegados” reuniu 50 artistas contemporâneos no Museu de Arte Brasileira, em São Paulo. Outras exposições: Espaço Cultural Alpharrábio, Santo André; Espaço Cultural Christiano Stockler das Neves, São Paulo (1994); Galeria Barata, Lisboa; Instituto Brasileiro de Cultura, Quito, Equador (1998); Galeria Majestic, Porto, Portugal. Também participou da coletiva “Dualidade”, na Cidade do México (1999).
Em 2000, viajou para a Índia a fim de estudar novas técnicas de papel, e participou da mostra “Unfolding Paper II” na Embaixada do Brasil em Nova Délhi. Nesse mesmo ano expôs na Funarte, em São Paulo, e em Póvoa de Varzim (Portugal). Seus trabalhos integram coleções oficiais e particulares em países como Portugal, França, Alemanha, Estados Unidos, Brasil, Argentina, Equador, México, China e Japão, bem como no Acervo Artístico do Palácio 9 de Julho.